sábado, 21 de setembro de 2013

Os olhos dele

Não têm uma cor fora do vulgar nem uma forma exótica. Não, os olhos dele são bonitos mas não têm nada de transcendente, analisando-os fisicamente. É a forma como os usa que me fascina. É mesmo o olhar. Num homem profundamente ligado à imagem em quase todas as suas vertentes, seria de esperar um olhar escrutinador ao aspecto físico das coisas e das pessoas. Mas não. Quando olha para mim, é como se tentasse ver-me por dentro. Como se tentasse tirar uma radiografia ao que eu sou.

Ele não consegue ver-me, apesar de tentar. Eu sei, e penso que ele deve saber que não está a conseguir ver tudo. No entanto, há demasiado no mundo dele para que isso o apoquente. Ainda bem. Até porque não é só para mim que ele olha desta forma. O que é mesmo incrível é precisamente isso: esse interesse genuíno pelo âmago do outro, essa vontade e capacidade de ver para além do óbvio, de tentar ver o que não é óbvio, esse observar utilizando novas perspectivas.

Os olhos dele sorriem inteiros quando ele sorri. Os olhos dele olham com curiosidade de menino e compreensão de homem. Os olhos dele olham para o mundo como se quisessem partilhar o que vêem com todos nós.

domingo, 15 de setembro de 2013

Em raw

Fotografia em raw e escrita em bruto. Uma e a mesma coisa, afinal. Porque hoje não podia ser de outra maneira.

Que se faz quando as coisas não cabem no peito?

Que se faz quando fazemos promessas a nós mesmos que temos medo de não vir a cumprir por medo? O que se faz é isto: é fazer a primeira compra para uma casa onde ainda não se vive relativa ao que prometemos a nós mesmos. É comprar um íman para o frigorífico que nos vai lembrar todos os dias que temos de honrar a vontade esmagadora que sentimos no dia em que o comprámos. É ela que nos vai levar ao destino. É essa vontade em bruto, é a voz de outra pessoa a dizer "atira-te!", é olhar e ver as pessoas com olhos de pessoa.

domingo, 8 de setembro de 2013

:/

É de manhã que sinto mais medo. É de manhã, ao acordar, que tudo me parece mais difícil de conseguir. Não sei porquê. Talvez o sono seja como a névoa num floresta, enchendo-me de dúvidas à medida que caminho. Se estiver preocupada com alguma coisa, é certo e sabido que acordo a pensar nas mil coisas relacionadas com esse assunto que podem dar para o torto. É geralmente de manhãzinha que acho que não vou ser capaz de alguma coisa. Depois desperto realmente, abro o estore, deixo entrar a luz do dia, e a coisa lá vai passando e boa parte das vezes os receios acalmam muito.

O medo é coisa mesmo poderosa.

Há gente que tem medo de tudo o que lhes é exterior. Eu tenho medo sobretudo de mim. De não ser capaz... De ser pequenina toda a vida. De um dia olhar para trás e achar que fiz tão pouco do que queria fazer.